Já declarei em quem pretendo votar para prefeito de minha cidade (São Paulo). Acho que essa é a postura mais honesta para alguém que fala – ou escreve – para muita gente, sobretudo quando o assunto que aborda preferencialmente é a política. Agora, volto a declarar meu voto, mas, desta vez, para os cargos legislativos.
Antes, contudo, quero explicar que minha forma de votar difere da forma majoritária no Brasil, pois voto em partido enquanto que a maioria dos brasileiros vota em pessoas, o que costuma produzir o monumental equívoco dos eleitores que fazem “saladas” eleitorais escolhendo parlamentares de um partido e candidato ao Poder Executivo de outro.
Julgo inexplicável que alguém eleja um candidato para o Poder Executivo e vote em seus adversários para o Poder Legislativo. A “explicação” que essa expressiva maioria que vota assim no Brasil costuma dar para decisão tão ilógica é a de que dessa forma manterá o prefeito, governador ou presidente “sob controle”.
Na verdade, o eleitor que age dessa maneira está enfraquecendo aquele que elegeu para comandar uma cidade, um Estado ou o país, e obriga esse governante a compor acordos para conseguir maioria legislativa que desfiguram a proposta com a qual venceu a eleição. E depois, aquele que elegeu um governante e o enfraqueceu, reclama que ele não cumpriu suas promessas.
Quando seu candidato a cargo no Poder Executivo não se elege, aí é até mais importante que você vote nos candidatos do partido dele para o Legislativo. Assim, você ao menos poderá ser representado para se opor ao candidato no qual não quis votar.
Essa visão política de como escolher representantes é a visão que os povos mais desenvolvidos e civilizados adotam em todo mundo. O voto conflitante (escolher candidatos ao Executivo e ao Legislativo que se opõem uns aos outros) é um equívoco e produto da ainda pequena experiência democrática nesta parte do mundo.
Dito isso, agora passo a explicar por que escolhi o PT em todas as eleições desde 1989.
Um grupo político que chega ao poder municipal, estadual ou federal não deve ser enfraquecido, mas não pode ficar à vontade para fazer o que quiser. Assim, para manter governantes e parlamentares sob fiscalização o melhor instrumento da democracia é a imprensa. É ela que deve – ou que deveria – fiscalizar o poder seja quem for que o ocupe.
Infelizmente, porém, a imprensa brasileira tem lado, é ideológica, de maneira que se abstém de fiscalizar alguns partidos e exagera na fiscalização de outros. Mas toda fiscalização, mesmo exagerada, é boa, assim como a ausência de fiscalização é ruim, sobretudo se for total.
A imprensa brasileira é de direita e hoje os que melhor representam a direita no Brasil são o PSDB e o PFL. Por isso, quando esses partidos estão no poder ficam livres para fazer o que querem.
Um excelente exemplo disso está em São Paulo. Os governos estaduais do PSDB, que se sucedem aqui há 14 anos, fizeram o Estado ter um dos piores ensinos públicos do país, um dos piores sistemas de saúde pública, uma das piores seguranças públicas etc.
Isso ocorre porque a grande imprensa paulista escolheu esse partido como defensor e implementador de políticas conservadoras que visam manter a desigualdade exacerbada que vige no Estado mais rico do país e, por isso, a forma como é governado São Paulo é um mistério para a população. Não há informações na imprensa. Não há críticas ao governo do Estado.
Mas quando o governo é do PT, seja municipal, estadual ou federal, mesmo que as críticas sejam exageradas e até mal-intencionadas, elas mantém esses governos permanentemente atentos e fazem com que se esforcem ao máximo para não errar.
Sempre digo que um dos principais fatores que fazem do governo Lula o sucesso que temos visto é a pressão da imprensa. Lula fala com muita propriedade quando diz que seu governo não pode errar, pois a imprensa critica e distorce até seus acertos.
Vejam só a prova da pressão intransigente que a imprensa exerce sobre governos petistas e a diferença em relação a governos conservadores. Todos, até os que não são paulistas, devem se lembrar das longas e ininterruptas campanhas da imprensa contra o governo Marta Suplicy... Mas quem se lembra de alguma campanha crítica da imprensa contra o governo do Estado ou contra a prefeitura paulistana depois que José Serra se elegeu prefeito?
Os governos do Estado de São Paulo ou da capital paulista parecem ser os melhores governos do mundo, porque não se vê críticas a eles na imprensa. O mesmo acontece com o governo de Minas Gerais e tantos outros governos tucanos ou pefelês. Já nos estados e municípios governados pelo PT, os ataques da imprensa são diários e ininterruptos.
É por isso que voto no PT, porque a imprensa fiscaliza seus governos de forma exagerada e injusta, mas isso obriga esses governos a se superarem. Não se pode dar a governantes a liberdade que a imprensa dá ao PSDB ou ao PFL não só para governarem mal, mas até para roubarem descaradamente.