A grande imprensa escrita e a de rádio e televisão tentaram transformar em grave problema estrutural do sistema aeroportuário e do sistema de monitoramento da aviação brasileira um simples movimento grevista de controladores de vôo, que, sem mais nem menos, fez surgir enormes problemas no tráfego aéreo brasileiro a partir de setembro do ano passado, logo após o desastre entre um boeing da Gol e um jatinho Legacy.
Depois do desastre aéreo supra mencionado, donos de meios de comunicação - tais como a família Frias, da Folha de São Paulo, ou a família Marinho, dona das Organizações Globo, bem como outras grandes corporações midiáticas familiares - viram no acidente causado pelo abuso de dois pilotos e de um jornalista norte-americanos, que testavam um jatinho da Embraer modelo Legacy, a oportunidade de criarem uma crise já no início do segundo mandato do presidente Lula.
O que aconteceu no acidente do ano passado foi o seguinte: os pilotos americanos desligaram, em pleno vôo, equipamentos de segurança do jatinho tais como o transponder, que serve para impedir colisão de aeronaves. Não se sabe exatamente qual a causa disso, mas a perícia na caixa-preta do jatinho revelou diálogos em que os pilotos afirmam claramente que desligaram os equipamentos de segurança.
Até o presente momento, depois de seis meses de investigação do acidente, não há um só indício consistente de que algum outro fator que não o desligamento de equipamentos do jatinho Legacy tenha causado a tragédia. Porém, a mídia começou a veicular acusações contra os controladores de tráfego aéreo de que teriam falhado no controle do espaço aéreo em que ocorreu o acidente. Contra a parede, os controladores passaram a dar declarações em"off" de que suas condições de trabalho eram inadequadas, apesar de que tais condições eram as mesmas de sempre sem que nunca tivesse ocorrido problema semelhante. Logo em seguida, os controladores foram procurados por políticos da oposição tucano-pefelista que os insuflaram a começarem um movimento grevista por melhores salários e menor carga de trabalho, o que sempre soa como música para qualquer categoria profissional.
A mídia começou a falar, por exemplo, dos salários dos controladores de vôo. Ganhariam muito mal exercendo uma função vital e o problema foi atribuído ao governo Lula. A mídia fez até comparações com os salários dos controladores de vôos de outros países para comprovar a tese de que o acidente aéreo envolvendo o boeing e o Legacy fora causado por uma inabilidade gerencial do governo federal que rotulou como "apagão aéreo", obviamente visando equiparar o movimento grevista dos controladores de vôo insuflados com o racionamento de energia elétrica imposto pelo governo FHC por falta de investimentos em geração de energia elétrica ao longo de seu mandato de oito anos.
Vejam bem, as condições de trabalho dos controladores de vôo e a estrutura do sistema aeroportuário e dos equipamentos de controle de tráfego aéreo eram as mesmas no tempo de todos os outros governos, mas a culpa pelos baixos salários e pela falta de equipamentos virou obra do atual governo. O mesmo a mídia não faz com os policiais de São Paulo, por exemplo, subordinados a governos do PSDB há mais de doze anos e que ganham entre os piores salários do país no Estado mais rico da federação, e que, a exemplo dos controladores de vôo, também exercem função vital para a sociedade.
Vitimizados pela mídia e insuflados por políticos da oposição tucano-pefelista com os quais passaram a manter reuniões freqüentes, os controladores de vôo começaram a ser induzidos por órgãos de imprensa e oposicionistas a manterem uma interminável "operação tartaruga", que, logo após o acidente aéreo do ano passado, passou a infernizar a vida das classes A e B, que são, majoritariamente, as classes sociais que mais poder de pressão têm. Também insuflados pelo noticiário, madames e doutores começaram a ter ataques histéricos, ditos manifestações de "civismo", em aeroportos, chegando ao ponto de partirem para a violência física e para a depredação.
A maioria das televisões privadas, sobretudo a Rede Globo, passou a manter equipes de cinegrafistas e repórteres a postos nos aeroportos para registrarem qualquer ocorrência. Na falta de atrasos maiores nos vôos, a mídia começou a enfiar outros problemas no tal do "apagão aéreo", depois transformado em "caos aéreo", porque o logotipo criado anteriormente havia se mostrado insuficiente para desgastar a imagem do governo Lula. Problemas climáticos ou até a invasão de uma pista de pousos e decolagens por um animal passaram a integrar o "caos aéreo". E então começaram, vindas "não se sabe" de onde, as sabotagens em equipamentos de aeroportos...
Poucos dias antes da paralisação geral dos controladores de vôo militares ocorrida na última semana de março, esses controladores reuniram-se com políticos do PFL. Poucos dias depois, implantaram um estado de pânico no país justamente num momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia embarcado para o exterior. Então, o caos se instalou, de fato, nos aeroportos de todo país, totalmente paralisados por falta de controladores de tráfego aéreo.
Diante de uma situação como aquela, com passageiros partindo para a agressão física de funcionários de companhias aéreas e para depredação de instalações delas nos aeroportos, enfim, pelo verdadeiro caos que se instalou no país com a paralisação quase que total de seu tráfego aéreo, o presidente da República, inteligentemente, acalmou os grevistas prometendo-lhes tudo que queriam a fim de evitar que um processo demorado de negociações se instalasse enquanto o país começava a se incendiar, sobretudo graças às chamadas intranqüilizadoras da mídia insuflando a população a protestar e os grevistas a manterem o estado de greve.
Surpreendida pela reação inesperada de um governo que pensou que seria paralisado pelo seu estratagema, a mídia partiu para a ignorância.
Depois dos controladores de vôo e dos passageiros, a mídia passou a insuflar os comandantes militares contra o governo. Transformou descontentamentos políticos antigos da caserna em incentivo a uma "crise militar", agora também repercutindo que o governo tinha ensejado "quebra de hierarquia" dos sargentos controladores de vôo, numa clara tentativa de criar uma crise institucional no país. Declarações de militares de linha dura e de alta patente contra o governo "comunista" e "esquerdista" de Lula começaram a ser reproduzidas em escalada. Mas agora, com a greve da última semana de março, o governo percebera o que se escondia por trás dos problemas no tráfego aéreo.
Depois de lograr pôr fim, com rapidez recorde, ao movimento paredista, o presidente Lula voltou atrás na promessa de conceder aos controladores de vôo tudo o que quisessem. Uma promessa que logrou impedir que um país continental mergulhasse no caos por falta de aviação civil. O governo passou a bola para os comandantes militares, que conseguiram enquadrar os grevistas porque, após serem atendidos pelo presidente, passaram a ser atacados pela mesma mídia que os vinha afagando e repercutindo as reivindicações e lembrando, sem parar, suas "más condições de trabalho". Foi aí que eles finalmente entenderam que vinham sendo usados.
Na primeira quinta-feira de abril, os controladores de vôo, agora sabedores do ardil engendrado pela oposição e pela mídia e no qual haviam caído, divulgaram uma "nota à sociedade" na qual pediram perdão pelo desatino que cometeram, obviamente convencidos de que foram transformados em instrumentos de grupos políticos. Como por mágica, então, a normalidade voltou aos aeroportos.
A mídia, mais uma vez, ficou inconformada. Os controladores eram a base do "caos aéreo" que ela vinha construindo dia após dia, semana após semana, mês após mês. De repente, mídia e oposição perderam uma massa de manobra que vinha sendo levada para onde quisessem e que mantinha acesa a chama da crise no setor aéreo. Então, passou a dizer que não adiantará os controladores de vôo saírem do estado de greve e abandonarem a "operação tartaruga" que vinham fazendo, porque haveria "outros problemas" no tráfego aéreo brasileiro tais como "overboking" (venda de passagens, pelas companhias aéreas, maior do que o número de assentos nos aviões) e falta - ou obsolescência - de equipamentos. A mídia só não explica por que antes de setembro do ano passado essas deficiências não causavam os problemas que surgiram depois do acidente com o boeing e o Legacy.
É óbvio que a mídia e a oposição conseguiram ao menos uma coisa: enxertando uma crise no setor aéreo, conseguiram impedir o avanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, que políticos do PSDB e do PFL (não aceito chamar o PFL de democrata) já dizem que, se der certo, será um golpe fatal em suas pretensões de vencerem a eleição presidencial de 2010.
Tudo o que relatei aqui está sendo censurado. Todos os meios de comunicação de maior alcance - e, portanto, sempre vinculados, de alguma forma, às famílias midiáticas - não permitem nenhuma difusão de idéias que lhes denuncie o papel de incendiários. Assim, a única forma que vejo de contar à sociedade a verdade sobre o "caos aéreo" é se cada um que ler este texto se incumbir de espalhar o que leu. Assim, se você concorda comigo, se sabe que falo a verdade, imprima este texto e distribua onde puder. No trabalho, nas ruas, em qualquer lugar em que lhe seja possível. Podemos derrotar a mídia. Só temos que tomar atitudes em vez de só ficarmos esperneando.
Extraido do Cidadania.com